17 julho, 2010

Extremos da Resposta

Como você reage a um "bom dia"? Algumas pessoas já abrem o sorriso e retribuem o" bom dia" e outras fecham a cara e nem respondem. Há uma infinidade de respostas que nós damos aos nossos amigos e a todos com quem convivemos diariamente. Analogamente, o nosso corpo reage de maneiras diversas ao meio no qual vivemos. Agora, iremos abordar alguns relatos― estranhos e bizarros ―sobre as nossa reações imunológicas.


  • Top dez das alergias mais estranhas
10° Alergia ao filho recém-nascido
A gravidez re
presenta um período de intensas modificações no corpo feminino.Sendo que quase todos os sistemas do corpo são afetados, dentre eles a pele. A maior parte das alterações decorrem de mudanças no nível hormonal ou/e mecânico. Algumas dessas alterações são fáceis de serem vistas como: o “barrigão”, os enjôos matinais, pés enchados,... Essas alterações são causadas por hormônios muitas vezes discutidos ,algumas vezes, nas salas de ensino médio e de ensino superior.As primeiras alterações caracterizam-se por grandes elevações de estrogênio, progesterona, beta HCG, prolactina e uma variedade de hormônios e mediadores que alteram completamente as funções do organismo.As intensas alterações imunológicas, endócri nas, metabólicas e vasculares tornam a gestante susceptível a mudanças na pele, tanto fisiológicas quanto patológicas. Essas alterações metabólicas criaram uma condição rara que acometeu Joanne, alergia ao própio filho. Joanne Mackie, de 28 anos, desenvolveu dolorid as bolhas e uma estranha alergia logo após dar à luz a seu filho James. A mãe sentia tanta dor causada pelas alergias que não conseguia nem segurar o filho e tinha que cobrir os braços para pegá-lo. Depois de alguns meses, a alergia passou, mas Joanne ficou com cicatrizes e scuras nos locais onde tinha bolhas.

9° Alergia à água

Urticária aquagênica é forma rara de urticária física caracterizada por aparecimento de urticas após o contato com
água, independente da temperatura. Há poucos casos descritos de urticária aquagênica e, destes, somente cinco da forma familiar. Apresentamos o primeiro relato de urticária aquagênica familiar no Brasil, acomete ndo mãe e filha. Ambas apresentavam urticas, principalmente após banho de chuveiro, independentemente da temperatura da água. A urticária aquagênica foi descrita p ela primeira vez em 1964 por Shelley e Rawnsley. É uma forma rara de urticária física, caracterizada pela formação de lesões urticariformes perifoliculares após contato com água, independente da temperatura. As lesões medem de 2 a 3 mm de diâmetro, localizam-se preferencialmente no tronco e parte superior dos membros e podem durar de 10 a 50 minutos. Acomete mais frequentemente mulheres do que homens e em geral inicia-se na puberdade. A ocorrência em crianças é bastante incomum,3-7 o mesmo podendo ser dito para os casos familiares, pois a maioria se apresenta de maneira isolada. A estudante Ashleigh Morris é uma das poucas pessoas que têm a estranha condição. Até mesmo suar causa dor extrema à garota de 19 anos. Quando Morris entra em contato com a água, sua pele fica com eritemas avermelhados, que levam duas horas para passar. O maior contato que ela tem com a água é durante o banho, e ainda assim, em pequenas “sessões” de um minuto para se lavar, já que isso é uma atividade extremamente dolorida para a jovem.

8° Alergia aos anestésicos
A alergia aos anestésicos não é tão freqüente como parece. Estatísticas apontam para um caso de complicação específica da anestesia para cada 10 mil cirurgias (não incluindo urgências e emergências). A forma mais grave de reação alérgica é conhecido como anafilaxia. Durante uma reação anafilática, o paciente pode sentir dificuldade em respirar, como passagens aéreas de perto. Inchaço da face e da boca podem ocorrer, e uma erupção cutânea avermelhada, por vezes, também é visto. O coração e os vasos sanguíneos são severamente afetadas, e esta é a marca da condição: o aumento da freqüência cardíaca e pressão arterial pode cair a níveis perigosamente baixos.



7° Alergia a sexo

Pesquisadores descobriram que certas mulheres são alérgicas ao sêmen, condição chamada d e alergia ao plasma seminal humano. Em casos raros, a r
esposta à alergia pode até levar à morte. Para resolver os problemas causados pela estranha alergia, a mulher tem que ter o apoio do parceiro: médicos aplicam amostras diluídas do sêmen do parceiro na vagina da mulher a cada vinte minutos, aumentando gradativamente a concentração de sêmen por várias horas. A melhor parte do curioso tratamento é o casal ter que fazer sexo de duas a três vezes por semana.

6° Alergia a exercícios físicos

Quem nunca p rocurou uma bela desculpa para faltar aquele treino físico (hiper) puxado? Agora, você já tem uma bela e boa desculpa, alergia a exercícios físicos. Pode até parecer uma desculpa esfarrapada, mas algumas pessoas realmente têm alergias a exerícios. Cerca de mil pessoas no mundo inteiro têm essa condição, e podem sofrer choques anáfilaticos se fizerem atividades físicas mais pesadas. Em alguns indivíduos, o exercício pode produzir um episódio de asma ou uma reação an afilática aguda. A asma é um tipo de reação anormal induzida pelo exercício. A asma induzida pelo exercício ocorre freqüentemente em indivíduos que sofrem de asma, embora alguns apresentem asma somente quando se exercitam. Após cinco a dez minutos de exercício vigoroso, tipicamente iniciando após a interrupção do exercício, o indivíduo apresenta uma sensação de aperto no peito associada a sibilos e dificuldade respiratória. É mais provável que a asma induzida pelo exercício ocorra quando o ar é frio e secoA alergia pode causar um edema de glote, levando a dificuldade de respirar, engasgos, náusea a vômito.

5° Alergia a moedas

Cara Duncan é proibido de receber qualquer dinheiro de bolso, porque ela é alérgica a moedas. Duncan de nove anos de idade sofre uma reação severa ao níquel contido em moedas. O níquel causa serias feridas e manchas quando ela toca em algum objeto que contenha o metal. Ela tem de usar luvas de algodão para proteger sua pele sempre que ela toca o dinheiro, jóias, fivelas de cintos, botões e até mesmo o portão do jardim.



4° Ale
rgia ao sol
Areia,mar,sol e água de coco... As férias perfeitas para qualquer pessoa. Qualquer pesso
a?Não é bem assim!
Algumas pessoas apresentam um tipo (não raro) de sensibilidade ao sol, mas um tipo específico, chamad
o de urticária solar, é extremamente raro e perigoso. A pessoa que possui fica com erupções na pele ao ser exposta ao UV, ou até mesmo à luz. Em certos casos, a roupa não é suficiente para a proteção.





3° Alergia à tecnológia

Para a maioria das pessoas, é bastante comum falar ao celular, usar o microondas ou di
gitar na frente no do computador. Mas qualquer uma dessas tarefas é quase impossível para Debbie Bird, que é argica à tecnologia moderna. Ela é tão sensível ao campo eletromagnético criado por computadores, microondas e outros aparelhos que tem erupções cutâneas fortes e inchado das pálpebras se ela chegar perto de algum desses objetos. Na Inglatera, onde Debbie vive, os médicos acreditam que as alergias têm uma ligação mais forte com uma saúde pouco resistente e os sintomas são atribuídos a característica psicossomáticas. Mas várias pessoas discordam, e afirmam que aproximadamente 500 pessoas têm o problema em todo o mundo.


2° Alergia à beijos

Apesar do titulo, e
ssa alergia não é causada pela boca ou à lingua do parceiro. Geralmente o que ocorre é que, ao beijar alguém, a pessoa entra em contato com possíveis resquícios de alimentos ou medicamentos ao qual é alérgico. Em 2003, o estudante Jamiw Stewart teve um choque anafilático em um baile ao beijar a sua colega Liza Macfarquharn. Ele tinha alergia a nozes, e sua parceiro tinha acabado de comer.




1° Alergia a roupas íntimas

A alergia é causada pelos tecidos utilizados para confeccionar as roupas íntimas, e pode atingir mulheres e homens. O melhor modo de evitar a alergia é usar calcinhas e cuecas de boa qualidade, com agentes bactericidas e hipoale rgênicas. Pessoas com esse tipo de alergia desenvolvem erupções, têm coceira e até mesmo bolhas.





A Alergia é uma resposta exagerada do sistema imunológico a uma substância estranha ao organismo, ou seja uma hipersensibilidade imunológica a um estímulo externo específico. Os portadores de alergias são chamados de “atópicos” ou mais popularmente de “alérgicos”.
  • Classificação:
  • Produção de anticorpos IgE

    Em indivíduos propensos a alergias, a exposição a alguns antígenos resulta na ativação de células Tһ₂ e na produção de anticorpos Ig E . Indivíduos normais não manif
    estam respostas à maioria dos antígenos estranhos. Por motivos desconhecidos,quando alguns indivíduos são expostos a antígenos, como proteínas do pólen, determinados alimentos, venenos de insetos ou pêlos de animais, ou a determinados medicamentos, como penicilina, a resposta da célula T dominante é o desenvolvimento de células Tһ₂. Qualquer indivíduo atópico pode ser alergico pode ser alérgico a um ou mais desses antígenos. Os antígenos que produzem as reações de hipersensibilidade imediata (alérgicas) geralmente são chamados de alérgenos. Duas das citocinas secretadas pelas células Tһ₂ interleucina IL-4 e IL-13, estimulam linfócitos B específicos para os antígenos estranhos a mudarem para células produtoras de IgE. Assim, os indivíduos atópicos produzem grandes quantidades de anticorpos IgE em resposta a antígenos que não produzem resposta da IgE na maioria das pessoas. Sabemos que a propensão ao desenvolvimento de Tһ₂, produção de IgE e hipersensibilidade tem uma base genética forte, com a contribuição de muitos genes diferentes. ( ABBAS 2ed.)
  • Roteiro diagnóstico para alergias

  • Teste cutâneo

16 julho, 2010

Casos Extremos: Fome

A fome, do latim faminem, pode ser conceituada como uma resposta do organismo à baixa ou falta de nutrientes essenciais para a manutenção do metabolismo - muitas vezes está relacionada à miséria, que impede a manutenção de uma alimentação saudável e balanceada.

Tal resposta do organismo é regulada por mecanismos que identificam essa baixa ou falta desses nutrientes no organismo e mandam estímulos que são transformados em comandos: comandos que conscientemente iniciam a busca por alimentos e inconscientemente iniciam o metabolismo degradativo. O jejum, período sem absorção de alimentos, é importante para a manutenção das reservas energéticas, evitando acúmulos desnecessários (aumento de peso, aumento de tecido adiposo, etc). Mas, prolongado, o jejum começa a degradar demais o organismo, com o objetivo de manter o nível glicêmico estável (principal objetivo do metabolismo energético, juntamente com a concentração de ATP); mas o preço que se paga para tentar manter a glicemia às vezes é alto demais.

Os casos relatados e analisados a seguir têm todos uma coisa comum: a privação de alimentos, seja por um jejum prolongado forçado ou por condições extremas. Sendo assim, a base para o entendimento dos casos é o funcionamento do metabolismo degradativo, regulado pelo balanço entre os hormônios insulina e glucagon, principalmente.


Nosso primeiro exemplo extremo de privação é o caso dos sobreviventes do acidente aéreo de 1972 nos Andes, quando um avião da Força Aérea Uruguaia que ia do Uruguai ao Chile levando 45 passageiros caiu no dia 13 de outubro de 72. Dezessete, dos 45 passageiros, morreram na hora do choque. Outros morreram horas ou dias mais tarde devido aos ferimentos e agressões do clima. Os sobreviventes resistiram na Cordilheira por mais de 70 dias; no período, alguns pereceram pelo frio, por infecções ou soterrados, até que os 16 restantes foram resgatados no dia 23 de dezembro. Os sobreviventes mantiveram-se vivos comendo a carne dos companheiros mortos. O caso virou filme ( "Vivos!", 1993, de Frank Marshall).

De início, havia mantimentos para alguns dias, com a esperança de resgate. Mas depois de 8 dias, com o mau-tempo, os sobreviventes ouviram pelo rádio do avião a notícia de que as tentivas de resgate tinham sido finalizadas, sem nenhum êxito. Assim, nos dias seguintes, os mantimentos foram acabando. Sobre isso, um dos sobreviventes relatou:

"Certa manhã, lá para o fim da nossa primeira semana nas montanhas, vi-me de pé do lado de fora da fuselagem, a olhar para um amendoim coberto de chocolate que embalava na palma da mão. As nossas provisões estavam esgotadas, aquele era o último pedaço de comida que eu receberia e com um desespero triste, quase mesquinho, estava determinado a fazê-la durar. No primeiro dia, lambi lentamente o chocolate do amendoim, depois enfiei o amendoim no bolso das minhas calças. No segundo dia, separei com cuidado as duas metades do amendoim, voltando a enfiar uma metade no meu bolso e colocando a outra metade na boca. Chupei lentamente o amendoim durante horas, permitindo-me apenas uma minúscula mordidela de vez em quando. Fiz o mesmo no terceiro dia e quando, por fim, o amendoim desapareceu, já não havia absolutamente nada para comer.

Além do problema dos mantimentos, duas semanas depois do acidente, uma forte avalanche cobre os restos do avião e 8 dos integrantes morrem soterrados. Os demais se refugiam no avião e esperam alguns dias para sair e fazer buscas de outras partes do avião, com o objetivo de encontrarem mantimentos. Como a maioria das vezes eles não encontravam nada, medidas drásticas precisavam ser tomadas. Mesmo com a relutância de alguns, o grupo decide se alimentar da carne de seus companheiros mortos - afinal, por mais que eles conseguissem transformar neve em água potável (a um ritmo baixo, mas conseguiam), sem comida eles não sobreviveriam por muito mais tempo. E foi com o antropofagismo que 16 membros do grupo conseguiram sobreviver e buscar ajuda em regiões próximas, até que conseguiram contatar um fazendeiro depois de uma caminhada de 160 quilômetros e chamar resgate para o grupo no dia 23 de dezembro daquele ano.

Mas como se explica a sobrevivência durante tanto tempo consumindo carne humana? Primeiramente, deve-se elucidar que, depois de algum tempo se alimentando com porções pequenas de carne humana, o grupo, já bem reduzido, conseguiu encontrar um pouco de comida (não exclusivamente proteica), o que ajudou muito em sua sobrevivência, em especial quando reuniram toda sua energia para buscar ajuda.


A carne, composta basicamente de proteínas, era ingerida em pequenas porções, retiradas dos cadáveres. As proteínas alimentavam, então, o metabolismo energético dos sobreviventes, que já tinham queimado toda a reserva de carboidrato e não tinham mais como obtê-lo. Acentua-se, então, o processo de proteólise muscular, onde a quebra das proteínas estruturais em aminoácidos e a transformação desses em piruvato (podendo produzir alanina como intermediário). O piruvato então, produzido no fígado através dos aminoácidos intermediários na corrente sanguínea, serve de substrato para a gliconeogênese, que atua em ritmo máximo (comandada pela ação majoritária do glucagon), transformando-se em glicose circulante.

Os ácidos graxos e triacilgliceróis mobilizados das reservas lipídicas também são degradados por comando do glucagon, e tal degradação não é acompanhada de uma degradação paralela de carboidratos (já que não são ingeridos), o que gera um acúmulo de Acetil-CoA no fígado. Com a gliconeogênese em ritmo acelerado, não há oxalacetato livre suficiente para participar do Ciclo de Krebs com o Acetil-CoA, o que impede a oxidação indiscriminada do último, que se condensa em corpos cetônicos, importantíssimos para o Sistema Nervoso Central (SNC) como reserva energética preferencial, depois da glicose.

O jejum prolongado, graças à relação extremamente desequilibrada de insulina e glucagon, acentua o processo degradativo do organismo. As reservas lipídicas vão ficando escassas e a proteólise é a principal fonte de substrato para a gliconeogênese. Os corpos cetônicos reduzem a necessidade por glicose do SNC, o que já economiza bastante a glicose provinda do fígado. Mas a contínua degradação de proteína nos músculos esqueléticos vai sendo cada vez mais prejudicial, causando perda muscular intensa. O consumo de proteínas pelos sobreviventes foi essencial para que eles continuassem vivos: uma perda muito significativa de massa numa temperatura de 30º negativos seria fatal.

Mas, mesmo com um certo "estoque" de proteínas, a situação não poderia se manter por muito mais tempo. Como falamos, os corpos cetônicos estavam suprindo as necessidades do SNC, mas a contínua produção deles com a degradação das reservas lipídicas (tecido adiposo) estava chegando a um ponto crítico: corpos cetônicos, por seu caráter ácido, não podem ficar em excesso no organismo, pois pode se instalar uma situação de acidose, a cetoacidose - que pode ocasionar sérios problemas cerebrais, como edemas cerebrais com alto risco de morte.

Outro problema paralelo é a gliconeogênese contínua no fígado e nos rins, abastecida por aminoácidos (alanina e glutamina), que aumenta significativamente a produção de uréia (fígado) e amônia (rins) - as cadeias carbônicas dos aminoácidos são usadas para a produção de glicose, os grupamentos amino são transformados em uréia/amônia. A amônia tem que ser transformada em uréia no fígado (ciclo da uréia), por ser muito tóxica. Com isso, além da uréia produzida pela própria gliconeogênese no fígado, ainda há a produzida pelo ciclo da uréia. E excesso de uréia na corrente sanguínea (por incapacidade do rim de filtrá-la acompanhando o ritmo de produção) causa a uremia, que pode causar distúrbios como náuseas e vômitos, o que afetaria ainda mais o metabolismo dos sobreviventes.

A determinação e a busca por ajuda foram essenciais e bem à tempo para garantir que os últimos 16 sobrevivessem e aguentassem até o resgate. (Na foto, momento de euforia com a chegada das equipes de resgate ao local)



Nosso próximo caso extremo de privação é a greve de fome, especificamente o caso da greve de fome de 135 dias do dissidente cubano Guillermo Fariñas, que terminou semana passada. Seus motivos são políticos: ele objetivava manifestar contra o governo de Raúl Castro, que mantém 52 presos políticos na ilha. Fariñas havia prometido terminar a greve somente com a liberação de pelo menos 10 dos 52, mas a libertação de 5 deles e a situação de saúde crítica de Fariñas forçaram-no a findar sua privação.

Não há como o organismo sobreviver tanto tempo sem nutrientes. Como então ele ficou 135 dias? Acontece que, depois de aproximadamente um mês de sua greve de fome e mínima ingestão de líquidos em sua casa, ele sofreu um desmaio e teve de ser levado para a emergência do hospital de Havana no dia 11 de março. Desde então, ele recebe alimentação intravenosa (com nutrientes leves, como relatam as reportagens) - o que resultou num ganho de peso nos primeiros dias. Só a alimentação intravenosa não é suficiente para substituir uma alimentação normal e completa de nutrientes, mas apenas mantê-lo vivo na cama de hospital. Mas, mesmo assim, a principal fase da greve de fome na alteração de seu metabolismo foi o primeiro mês de privação.

Sem comer por mais de 12 horas (já considerado jejum prolongado), o organismo de Guillermo começa a passar pelas mesmas transformações que os sobreviventes dos Andes: proteólise e lipólise, estimuladas pelos comandos do glucagon (quase nenhuma inibição por parte da insulina, já que não há absorção de nutrientes), tentam compensar a falta de carboidratos para produzir glicose - e corpos cetônicos que auxiliam na nutrição do SNC em situação de jejum. Mas, diferentemente deles, Guillermo não faz isso por falta de alimentos, ele voluntariamente se mantém nessa situação, sem nem ingerir as proteínas que os sobreviventes ingeriam através da carne humana. Guillermo obriga seu organismo a usar somente as suas reservas: proteínas dos músculos esqueléticos e ácidos graxos/triacilgliceróis das reservas lipídicas (tecido adiposo). Sem reposição protéica, a degradação muscular é acentuada, e começa a ficar escassa a fonte de proteínas, levando a uma queda na produção de glicose. O corpo, assim, direciona toda a energia para a proteólise e lipólise, objetivando sempre a manutenção da glicemia e a produção de corpos cetônicos.

Com o jejum cada vez mais prolongado, o corpo fica com cada vez menos energia, músculos degradados e com um início de acidose; o corpo fraqueja. O movimento e as defesas ficam prejudicadas. Guillermo desmaia e é internado. Mas só a alimentação intravenosa não é suficiente para recuperar os sistemas lesados. Entre eles o imunológico - o corpo fica muito mais suscetível a infecções, por exemplo. E foi o que aconteceu: depois de algum tempo com a alimentação via cateter, houve uma infecção generalizada. Além disso, criou-se um coágulo venoso no pescoço de Guillermo - uma trombose -, que poderia atingir o coração e/ou os pulmões e matá-lo. A trombose provavelmente foi também causada pela introdução do alimento intravenoso e/ou graças à infecção. Se não acabasse logo com a greve de fome, a falta de nutrientes acabaria com ele.

Para terminar, falaremos de um caso de inanição - que nada mais é do que a fraqueza causada pela fome extrema - : a morte por inanição usada na eutanásia - caso de Terri Schiavo em 2005 (foto à esquerda).

Graças a uma parada cardíaca em 1990, Theresa Marie Schindler-Schiavo sofreu uma desoxigenação do cérebro, que resultou numa severa lesão cerebral irreversível. Em estado de coma durante 15 anos, em 2005 seu tubo de alimentação foi removido após comprovação do estado crítico de atrofia cerebral e da ausência completa de consciência. Com a remoção do tubo, Terri Schiavo morreu de inanição 14 dias após a retirada do tubo. A grande ironia do destino é que a bulimia causadora de sua parada cardíaca é comumente uma causa direta de inanição.

A morte por inanição, no caso da eutanásia, ocorre da seguinte forma:
1. Os médicos realizam um processo cirúrgico para remover um tubo subcutâneo que leva os alimentos para o estômago.
2. A produção de urina diminui enquanto o paciente vai eliminando secreções normais do corpo. A boca começa a parecer seca e os olhos perdem o brilho.
3. O emagrecimento começa a ser visível como causa de uma desnutrição aguda. Os batimentos cardíacos gradualmente caem e a pressão arterial diminui.
4. O cérebro começa a sentir a falta de glicose e de oxigênio. Inicia-se a morte dos neurônios.
5. O paciente já não responde ao ambiente que o rodeia. Há marcas sérias de desidratação, como a pele extremamente seca.
6. A função dos rins fica gravemente prejudicada e as toxinas se acumulam no organismo. Há falência da oxigenação dos músculos e vários sistemas começam a falhar por falta de nutrição
7. Com a falta de combustível, o cérebro não consegue enviar as ordens de funcionamento para o resto do corpo. Ocorre a falência geral dos órgãos e a morte.

15 julho, 2010

Extremos do Organismo: Desnutrição


Complementando os casos específicos de fome/privação extrema, falemos um pouco sobre a desnutrição.

A Desnutrição é um estado mórbido(secundário a uma deficiência ou excesso, relativo ou absoluto, de um ou mais nutrientes essenciais), que se manifesta clinicamente, ou é detectada por meio de testes bioquímicos, antropométricos, topográficos ou fisiológicos.

Essa situação está associada a condições insalubres de moradia e baixa estatura. Estudos em adolescentes com baixa estatura mostraram suscetibilidade aumentada a ganho de gordura na região central do corpo, diminuição da oxidação de gordura corporal e do gasto energético e aumento da pressão sangüínea, assim como alterações no metabolismo da glicose e da insulina, todos fatores associados à ocorrência de doenças crônicas na vida adulta.

A desnutrição é responsável por 55% das mortes de crianças no mundo inteiro. Está associada a várias outras doenças e ainda hoje é considerada a doença que mais mata crianças abaixo de cinco anos.

Certos mecanismos estão ativados quando o indivíduo recebe uma alimentação insuficiente quantitativamente, ou inadequada do ponto de vista qualitativo (quando faltam os nutrientes necessários, como vitaminas e minerais), sobretudo no início da vida. O nosso centro controlador de toda a atividade metabólica, que é o sistema nervoso, se "programa" permanentemente para economizar energia em forma de gordura e reduzir o crescimento, para garantir a sobrevivência em condições adversas. Um dos hormônios fundamentais para isso é o cortisol. Essa situação é chamada de desnutrição, e o hormônio que a regula, em conjunto com outros, é, por isso, o hormônio do estresse.

É bem conhecido também o ciclo vicioso consumo inadequado de alimentos/aumento de doenças: perda de peso, crescimento deficiente, baixa imunidade, danos na mucosa gastrointestinal, perda de apetite, má absorção do alimento, alterações importantes no metabolismo. E voltamos sempre ao hormônio do estresse – o cortisol alto –, que depois terá um papel muito importante na vinculação da desnutrição com doenças crônicas na vida adulta.



As causas da baixa estatura são várias: nutrição materna insuficiente, desnutrição intra-uterina, falta de aleitamento materno até seis meses, introdução tardia de alimentos complementares, alimentos complementares em quantidade e qualidade inadequadas, absorção de nutrientes prejudicada por infecções e parasitoses intestinais.

O gráfico abaixo comprova a importância da estatura como marcador eficiente e direto da pobreza. Temos aqui a estatura média de três populações adultas acima de dezoito anos: a população de um acampamento rural do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), uma população moradora em favelas (Sem-Teto) em Maceió, Alagoas, a média brasileira para homens e mulheres e a população de referência americana. O grupo mais pobre – e com a média mais baixa – é o dos sem-terra. A estatura, assim, é um ótimo indicador de pobreza.

14 julho, 2010

Extremos do Organismo: Dor (3)


  • Tecido nervoso

A unidade funcional e estrutural do sistema nervoso é o neurônio. São os neurônios que fazem a ligação entre as células receptoras dos diversos órgãos sensoriais e as células efetoras (músculos e glândulas). Os neurônios são células muito especializadas que apresentam um ou mais prolongamentos, ao longo dos quais se desloca um sinal elétrico.

Podem ser classificados, com base no sentido em que conduzem impulsos relativamente ao sistema nervoso central, em:
1. neurônios sensoriais ou aferentes - os que transmitem impulsos do exterior para o sistema nervoso central;
2. neurônios motores ou eferentes - os que transmitem impulsos do sistema nervoso central para o exterior;
3. neurônios de conexão - os que conduzem impulsos entre os outros dois tipos de neurônios.

Cada neurônio compreende um corpo celular que contém um núcleo, retículo endoplasmático muito abundante (corpos de Nissl), mitocôndrias, dictiossomas e neurofibrilas; apresenta uma ou mais ramificações de filamentos citoplasmáticos finos, chamados dendritos, que conduzem os impulsos até ao corpo celular e um prolongamento, o axônio, que pode ser muito longo e apresentar ramificações na sua parte distal ou, ao longo da sua extensão, formando ramificações colaterais. Em alguns casos, os axônios podem estar rodeados por uma substância esbranquiçada, de natureza lipídica, a mielina, recoberta pelas células de Schwann. A bainha de mielina é descontínua, dando origem à formação dos nódulos de Ranvier.

As regiões onde ocorrem a trocas de impulsos entre as células nervosas são chamadas de sinapses. Nestes locais, o impulso elétrico de um neurônio estimula a produção de uma substância química, um neurotransmissor, que irá sensibilizar uma célula nervoso alvo afim de propagar o impulso. Existem diversos neurotransmissores, e estes atuam em áreas específicas do sistema nervoso, sendo que podem ter efeitos diferentes dependendo da área de atuação.

Ao lado, um esquema de como os impulsos são levados desde o axônio aferente até o Sistema Nervoso Central.



E, para concluir, um pequeno resumo esquemático de toda a parte sensorial e cognitiva da dor:

Extremos do Organismo: Dor (2)

  • Teorias da dor


O estudo da dor tem gerado discussões e controvérsias entre os especialistas. Várias teorias foram apresentadas para explicar, ou procurar esclarecer esse fascinante fenômeno. Entre elas a mais clássica é a da especificidade e a mais recente a do controle do gatilho.

  • Teoria da especificidade –Foi proposta por Descartes em 1644, como um sistema da dor por um canal direto da pele para o cérebro. Esse conceito persistiu até o século passado, quando Muller postulou a transmissão do impulso apenas através dos nervos sensitivos. No final do século dezenove, Von Frey desenvolveu o conceito de receptores cutâneos específicos na mediação do toque, calor, frio e dor. As terminações nervosas livres foram implicadas como receptores da dor. Admitiu-se a existência de um centro da dor no interior do cérebro, o qual seria responsável pelas manifestações da experiência desagradável. Essa teoria foi responsável pelo surgimento de diversos métodos cirúrgicos na manipulação da dor crônica, por meio do seccionamento de nervos.

  • Teoria do controle do gatilho ou da porta-espinal – Foi proposta por Melzack & Wall em 1965. Muito embora possa ser exposta em termos simples, suas diversificações são extremamente complexas. Nem todos os seus aspectos estão suficientemente esclarecidos e nem receberam a concordância de todos os investigadores, mas essa teoria vem recebendo muita atenção atualmente, pelo fato de levar em consideração um elemento participante do mecanismo da dor : a emoção. As teorias que a antecederam eram facilmente compreendidas e lógicas, mas tinham uma grave falha: viam a dor simplesmente como um tipo de reação estímulo-resposta e ignoravam quase que totalmente o papel da emoção.

Durante a segunda grande guerra, Beecher, professor de Anestesiologia em Harvard, trabalhando em um hospital de campo em Anzio, observou que soldados gravemente feridos e que tinham toda a razão do mundo para suplicar por um alívio, recusavam obstinadamente qualquer medicamento para controle da dor. Simplesmente por terem sobrevivido mostravam-se tão eufóricos que, aparentemente, sua alegria bloqueava a dor. Da mesma maneira, outros investigadores notaram que atletas, como jogadores de futebol, comumente deixam o campo e só no vestiário descobrem sérias lesões no joelho ou tornozelo. Na excitação do jogo, não tomam conhecimento dessas injúrias.

A teoria do controle do gatilho pode explicar esses fenômenos e por isso foi considerada como revolucionária no estudo dos conceitos da dor. Em termos simples essa teoria pode ser exposta da seguinte maneira: os milhões de receptores do corpo conservam o cérebro abastecido de informações sobre temperatura e condições dos tecidos e dos órgãos. Como já visto, os receptores e o sistema nervoso central comunicam-se por meio de um complexo código neural, via de uma intrincada rede de nervos. O corte de um nervo ao microscópio assemelha-se a um cabo elétrico, feito de muitas fibras de várias espessuras. As mais grossas transmitem impulsos como os originados nos receptores do tato; as mais finas, de transmissão mais lenta, conduzem os impulsos de dor. Esses nervos convergem para a medula espinal e ali, aos autores da teoria admitem a existência de um mecanismo semelhante a uma porta que usualmente permanece fechada para bloquear a dor mas, às vezes, pode abrir-se para admiti-la.


Quando se arranha a pele suavemente, as fibras grossas conduzem impulsos que são percebidos, porém não traduzem uma sensação desagradável pois a "porta" conserva-se fechada. Se a pele continuar a ser arranhada, cada vez com mais força, mais receptores são estimulados e as fibras grossas sobrecarregadas fazem com que a "porta" se abra e as fibras finas aproveitam a oportunidade para enviar impulsos de dor, que passam através dela.


Ao contrário das outras teorias, os autores desta acreditam que quase todo o sistema nervoso central esteja envolvido no ato de decidir se a "porta" deve permanecer fechada ou abrir : a memória, o estado de espírito, a atenção, etc., têm participação na experiência da dor. As emoções positivas, como a excitação (no exemplo dos atletas) ou o prazer, fecham a "porta". As negativas, como a ansiedade e a apreensão, fazem-na abrir-se. Naturalmente a idéia de porta é puramente teórica e até agora não foi identificado positivamente nenhum mecanismo real no organismo que exerça essa função.


Mesmo admitindo-se que a percepção da dor é igual em pessoas sadias, alguns fatores têm influência definida sobre o limiar de dor de cada indivíduo.

  • Estados emocionais - O limiar depende em grande parte da atitude do paciente frente ao procedimento do operador e ao ambiente. Em regra geral, pacientes emocionalmente instáveis têm baixos limiares.

  • Fadiga - É fator de grande importância para o limiar de dor. Os pacientes descansados e que tenham dormido bem antes de uma experiência desagradável têm um limiar de dor muito mais alto que outros, fatigados e com sono. É essencial que uma boa noite de sono preceda o tratamento.


  • Idade - Os adultos tendem a tolerar mais a dor, apresentando portanto limiar mais alto que os jovens e as crianças. Talvez a compreensão que experiências desagradáveis são parte da vida influam na pessoa. Nos casos de senilidade a percepção da dor pode apresentar-se alterada.


  • Raça - As raças que apresentam indivíduos mais emotivos como os latino-americanos e os europeus meridionais têm limiar mais baixo que os norte-americanos e europeus setentrionais.


  • Sexo - O homem tem limiar mais alto que a mulher. Isso talvez reflita o desejo do homem de manter sua impressão de superioridade, fazendo esforço maior para tolerar a dor.


  • Medo - O limiar diminui à medida que o temor aumenta. Os pacientes medrosos e apreensivos tendem a aumentar exageradamente sua expectativa negativa. Esses pacientes são hiperreativos e tornam a dor fora de proporção em relação ao estímulo que a causou. É essencial que o operador adquira a confiança do paciente para levar o tratamento a bom termo.

10 julho, 2010

Extremos do frio: A Verdade sobre os Esquimós e seu Metabolismo

Esquimós são grupos indígenas que tradicionalmente habitam ou habitaram regiões da Sibéria, Alasca e Canadá. Por muitas gerações esse povo tem vivido em regiões gélidas, utilizando muitas vezes ferramentas e utensílios rudimentares para conseguirem sobreviver. Apesar de todas as adversidades, porém, esses povos são bem adaptados para sobreviveram nessas regiões inóspitas e o tem feito com sucesso por muito tempo. Graças a isso, vários pesquisadores foram levados a pesquisarem quais as causas de tamanha adaptabilidade ao frio. Seria alguma diferença genética? Algo que se desenvolveu durante o porvir de cada geração e que conferiu algum tipo de vantagem ou resistência ao frio?

Com o propósito de responderem a essas perguntas, pesquisadores do Departamento de Fisiologia do Artic Aeromedical Laboratory do Alasca realizaram uma série de experimentos comparando a Taxa de Metabolismo Basal dos esquimós de algumas regiões com a dos homens brancos (caucasianos). Antes, porém, de descrever o experimento, é importante definir taxa de metabolismo basal: é a quantidade mínima de energia necessária somente para o funcionamento de órgãos vitais e para sustentar o organismo em estado de repouso. O experimento foi o seguinte: foram selecionados grupos de esquimós saudáveis de ambos os sexos e de diferentes regiões do Alasca, dentre estes alguns grupos possuíam comportamento e hábitos alimentares relativamente parecidos com o do homem branco e outros eram grupos bastante tradicionais de esquimós. Mediu-se, então, o metabolismo basal médio destes esquimós e comparou-se os resultados com os obtidos de um grupo controle composto por homens brancos. Os resultados obtidos encontram-se na tabela a seguir:



A primeira coluna(sempre considerando da esquerda para a direita) indica a região do Alasca de onde vieram os grupos de esquimós estudados. Dentre estes quatro, os nativos de Kotzebue são os que possuem maior semelhança alimentar e comportamental com os homens brancos. A segunda coluna indica a taxa metabólica basal média de cada grupo. A terceira indica a variação com relação ao padrão de DuBois, que é um padrão de taxa metabólica basal adotado para os seres humanos. Como na época em que foi estabelecido esse padrão não foram levados em consideração alguns fatores como o nervosismo, a ansiedade, dentre outros, geralmente a taxa metabólica normal de um homem branco saudável se encontra -2% abaixo dessa média. A quarta coluna indica a quantidade de proteínas ingeridas por dia, e a quinta coluna indica a quantidade de nitrogênio eliminado através da urina, dado em horas ( o período de análise foi de 5 horas). A partir destes resultados, fica fácil concluir que a taxa de metabolismo basal do esquimós realmente é bem maior do que a dos homens brancos comuns, o que contribui para a produção de calor basal gerado pelo organismo, ajudando talvez na adaptação do frio. Mas como explicar esse fenômeno? Como os esquimós possuem esta habilidade? Outro experimento foi feito com esses mesmos grupos de esquimós a fim de procurar uma resposta. Notou-se que na alimentação destes esquimós a presença de proteínas é extremamente alta, devido ao fato de a maioria deles se alimentar praticamente só de carne de mamíferos terrestres e aquáticos e de peixes. Assim sendo, tentou-se introduzir uma dieta alimentar bastante rica em proteínas aos homens brancos do grupo controle ( um dado curioso é que o grupo de pesquisadores fracassou em aplicar a mesma dieta dos esquimós ao grupo controle, visto que este não conseguiu administrar a enorme e exclusiva quantidade de carne da dieta regular dos esquimós) e uma dieta com maior quantidade de carboidratos e lipídeos aos esquimós. Os resultados indicados na tabela:

Mostram que a taxa metabólica basal dos esquimós decresceu até os valores normalmente esperados de se encontrar nos homens brancos. Nos homens do grupo controle, todavia, a taxa metabólica basal atingiu os altos níveis normalmente encontrados nos esquimós. Com isso, os cientistas concluíram que não existem diferenças genéticas entre o homem caucasiano e o esquimó com relação ao metabolismo basal, e que as diferenças normalmente encontradas se devem à dieta extremamente rica em proteínas dos esquimós. Isso ocorre porque as proteínas são até 30% mais difíceis para o organismo digerir do que carboidratos, fazendo com que o metabolismo do corpo aumente e acabe produzindo maior calor basal.

Isso mostra que as situações extremas não são necessariamente danosas ao metabolismo: ele se adapta às condições e se supera continuamente na busca de um funcionamento ótimo (para determinadas condições, obviamente).

04 julho, 2010

Extremos do Organismo: Dor

Falaremos sobre como funciona o organismo na detecção/resposta a estímulos entendidos como dor. Nessa primeira postagem, trataremos a dor como uma das Condições Extremas; numa postagem posterior, falaremos dos Extremos das Condições - no caso, da dor (ou seja, dos casos mais extremos de dor, dos ápices, como o da figura ao lado).

Os organismos vivos representam um complexo sistema que busca um equilíbrio entre as forças internas e as forças externas (do meio ambiente) para a sua sobrevivência. Esse equilíbrio é exibido na variedade de suas respostas à ações de agentes exteriores ou internos. Para essa finalidade, alguns animais privilegiaram o sistema nervoso, que adquire especial significado na regulação das funções organicas. E uma das respostas a tais forças internas e externas é a dor.

  • O que é a dor?

Dor pode ser definida como "Uma sensação pessoal e particular de sofrimento físico; um estímulo nocivo que indica lesão ou dano tecidual atual ou eminente; um padrão de respostas que atua para proteger o organismo contra o dano" (Sternback, 1968). Ou seja, dor basicamente é o sinal nervoso percebido pelo consciente que indica que algo está "errado", danificado ou fora de lugar no organismo.

  • Principais processos envolvidos na sensação da dor

Percepção e reação à dor :

A percepção da dor envolve mecanismos anatômicos e fisiológicos, pelos quais um estímulo nocivo capaz de gerá-la é criado e transmitido por vias neurológicas. Esta fase da dor é praticamente igual em todos os indivíduos sadios, mas pode ser alterada por doenças, pois a capacidade de perceber a dor depende, sobretudo, da integridade do mecanismo neurológico envolvido. Na hanseníase (lepra), por exemplo, grande parte da sensibilidade do indivíduo é perdida, inclusive a capacidade de sentir dor - sendo assim, seus tecidos são lesados sem que isso gere resposta nervosa (dor e/ou reação).

A reação à dor vem da manifestação do indivíduo pela percepção de uma experiência desagradável. Esta fase do processo da dor envolve fatores neuroanatômicos e fisiopsicológicos extremamente complexos que englobam o córtex, sistema límbico, hipotálamo, tálamo, e que determinam exatamente a conduta do paciente a respeito de sua experiência desagradável. Um mecanismo de reação imediata à dor ou a uma situação que pode gerar dor é o arco-reflexo: sem passar pela fase de processamento (no córtex cerebral), o sinal de contato com algo que o organismo detecta como possível causa de dor/dano é automaticamente num sinal de resposta, de reação. Um exemplo clássico é a de se encostar a mão numa superfície quente e, literalmente sem pensar, retirar a mão (a variação extrema de temperatura gera uma resposta motora de afastamento).

No consultório essas duas caractéristicas devem ser levadas em conta no controle da dor. Em pacientes excessivamente apreensivos apenas a aplicação da anestesia local pode ser um erro. Devido ao medo,ansiedade ou nervosismo essas pessoas podem, subconscientemente, interpretar mal os estímulos não-nocivos. O sistema nervoso pode operar de tal maneira que estímulos banais, não nocivos, sejam interpretados como dolorosos.

Receptores:

Os elementos que captam os estímulos para serem transmitdos ao sistema nervoso central são chamados de receptores. Os receptores são tecidos nervosos especializados, sensíveis a alterações que aconteçam no meio(externo ou interno). Os vários tipos de “dor” podem ser percebidas e distinguem-se uma das outras devido aos diferentes tipos de receptores. A pesquisa fisiológica demonstra que estímulos específicos são captados por receptores específicos e que somente respondem a sensação de dor quando atinge o limiar de excitação ("limiar de dor").

Os receptores podem ser classificados em dois grandes grupos: os exteroceptores e os interoceptores.

  • Os exteroceptores permitem a sensibilidade de extímulos emanados do meio externo. São encontrados em mucosas, na pele e em seus anexos (pelos,unhas e dentes). Dentre as sensações captadas pelos exteroceptores podemos citar: tato, temperatura, pressão, dor. O mais importante receptor para nosso estudo é conhecido como nociceptores (receptor da dor).

  • Os interoceptores são aqueles sensíveis a alterações do meio interno, isto é, são responsáveis pela propriocepção. Abrangem os receptores situados nas vísceras, músculos, tendões e no periodonto e são denominados fusos neuromusculares ou proprioceptores.

Os receptores apresentam propriedades muito interessantes, tais como:

  • Excitação e adaptação - Um estímulo para ser percebido, deve exceder uma intensidade crítica, ou seja, deve atingir um limiar. Além disso, o estímulo deve provocar uma alteração do meio, mais rapidamente que uma determinada velocidade, para que se produza a excitação. Por exemplo, é fácil apreciar o calor associado à ingestão de leite quente, entretanto se o indivíduo tomar lentamente leite de temperaturas elevadas, pode demonstrar uma tolerância muito maior que no primeiro caso, pois ocorre uma adaptação ao estímulo. Certos estímulos são mais tolerados que outros. Para a dor quase não ocorre adaptação, enquanto que o tato e a pressão têm boa adaptação, como podemos observar pelo uso de nossas roupas, óculos, jóias, etc. O fato de os receptores da dor adaptarem-se mal e lentamente é benéfico, pois que a dor é uma sensação útil sob o ponto de vista de ser um mecanismo protetor : a fácil adaptação aboliria sinais de aviso contra o perigo.

  • Especificidade - Os vários receptores não só diferem morfologicamente entre sí, mas também diferenciam-se pelo fato de cada um servir apenas a uma modalidade sensitiva. Isto eqüivale a dizer que os corpúsculos de Ruffini reagem normalmente apenas ao calor; os de Golgi-Mazzoni respondem apenas à pressão, ou seja, se a pressão for aplicada aos receptores de Ruffini, eles não iniciarão um impulso e nem o calor aplicado aos de Golgi-Mazzoni provocará qualquer resposta. À propriedade do receptor responder apenas a um tipo particular de estímulo, toma o nome de especificidade. Todavia, é preciso lembrar que a especificidade aplica-se apenas dentro dos limites normais ou fisiológicos da intensidade do estímulo.

  • Intensidade - As diferenças de intensidade da estimulação são facilmente percebidas: podemos distinguir facilmente uma bofetada de um tapa afetuoso. Esse discernimento está condicionado por dois mecanismos: 1. A velocidade de descarga de um receptor está em função da intensidade da estimulação, ou seja, quanto mais forte o estímulo, mais rápida será a velocidade de descarga. Um estímulo forte produz uma torrente de impulsos, enquanto outro mais fraco, no mesmo período de tempo, dará origem apenas a uns poucos impulsos. 2. Raramente um estímulo afeta apenas um receptor. O número de receptores ativados depende da intensidade da estimulação porque nem todos eles possuem o mesmo limiar de intensidade. Um estímulo fraco provocará uma resposta apenas nos receptores mais sensíveis. Um estímulo forte porém ativará também, além dos receptores mais sensíveis, aqueles de limiar de intensidade mais elevado, Neste último caso, o córtex sensitivo receberá, por meio das vias nervosas, um número maior de impulsos por unidade de tempo.