04 julho, 2010

Extremos do Organismo: Dor

Falaremos sobre como funciona o organismo na detecção/resposta a estímulos entendidos como dor. Nessa primeira postagem, trataremos a dor como uma das Condições Extremas; numa postagem posterior, falaremos dos Extremos das Condições - no caso, da dor (ou seja, dos casos mais extremos de dor, dos ápices, como o da figura ao lado).

Os organismos vivos representam um complexo sistema que busca um equilíbrio entre as forças internas e as forças externas (do meio ambiente) para a sua sobrevivência. Esse equilíbrio é exibido na variedade de suas respostas à ações de agentes exteriores ou internos. Para essa finalidade, alguns animais privilegiaram o sistema nervoso, que adquire especial significado na regulação das funções organicas. E uma das respostas a tais forças internas e externas é a dor.

  • O que é a dor?

Dor pode ser definida como "Uma sensação pessoal e particular de sofrimento físico; um estímulo nocivo que indica lesão ou dano tecidual atual ou eminente; um padrão de respostas que atua para proteger o organismo contra o dano" (Sternback, 1968). Ou seja, dor basicamente é o sinal nervoso percebido pelo consciente que indica que algo está "errado", danificado ou fora de lugar no organismo.

  • Principais processos envolvidos na sensação da dor

Percepção e reação à dor :

A percepção da dor envolve mecanismos anatômicos e fisiológicos, pelos quais um estímulo nocivo capaz de gerá-la é criado e transmitido por vias neurológicas. Esta fase da dor é praticamente igual em todos os indivíduos sadios, mas pode ser alterada por doenças, pois a capacidade de perceber a dor depende, sobretudo, da integridade do mecanismo neurológico envolvido. Na hanseníase (lepra), por exemplo, grande parte da sensibilidade do indivíduo é perdida, inclusive a capacidade de sentir dor - sendo assim, seus tecidos são lesados sem que isso gere resposta nervosa (dor e/ou reação).

A reação à dor vem da manifestação do indivíduo pela percepção de uma experiência desagradável. Esta fase do processo da dor envolve fatores neuroanatômicos e fisiopsicológicos extremamente complexos que englobam o córtex, sistema límbico, hipotálamo, tálamo, e que determinam exatamente a conduta do paciente a respeito de sua experiência desagradável. Um mecanismo de reação imediata à dor ou a uma situação que pode gerar dor é o arco-reflexo: sem passar pela fase de processamento (no córtex cerebral), o sinal de contato com algo que o organismo detecta como possível causa de dor/dano é automaticamente num sinal de resposta, de reação. Um exemplo clássico é a de se encostar a mão numa superfície quente e, literalmente sem pensar, retirar a mão (a variação extrema de temperatura gera uma resposta motora de afastamento).

No consultório essas duas caractéristicas devem ser levadas em conta no controle da dor. Em pacientes excessivamente apreensivos apenas a aplicação da anestesia local pode ser um erro. Devido ao medo,ansiedade ou nervosismo essas pessoas podem, subconscientemente, interpretar mal os estímulos não-nocivos. O sistema nervoso pode operar de tal maneira que estímulos banais, não nocivos, sejam interpretados como dolorosos.

Receptores:

Os elementos que captam os estímulos para serem transmitdos ao sistema nervoso central são chamados de receptores. Os receptores são tecidos nervosos especializados, sensíveis a alterações que aconteçam no meio(externo ou interno). Os vários tipos de “dor” podem ser percebidas e distinguem-se uma das outras devido aos diferentes tipos de receptores. A pesquisa fisiológica demonstra que estímulos específicos são captados por receptores específicos e que somente respondem a sensação de dor quando atinge o limiar de excitação ("limiar de dor").

Os receptores podem ser classificados em dois grandes grupos: os exteroceptores e os interoceptores.

  • Os exteroceptores permitem a sensibilidade de extímulos emanados do meio externo. São encontrados em mucosas, na pele e em seus anexos (pelos,unhas e dentes). Dentre as sensações captadas pelos exteroceptores podemos citar: tato, temperatura, pressão, dor. O mais importante receptor para nosso estudo é conhecido como nociceptores (receptor da dor).

  • Os interoceptores são aqueles sensíveis a alterações do meio interno, isto é, são responsáveis pela propriocepção. Abrangem os receptores situados nas vísceras, músculos, tendões e no periodonto e são denominados fusos neuromusculares ou proprioceptores.

Os receptores apresentam propriedades muito interessantes, tais como:

  • Excitação e adaptação - Um estímulo para ser percebido, deve exceder uma intensidade crítica, ou seja, deve atingir um limiar. Além disso, o estímulo deve provocar uma alteração do meio, mais rapidamente que uma determinada velocidade, para que se produza a excitação. Por exemplo, é fácil apreciar o calor associado à ingestão de leite quente, entretanto se o indivíduo tomar lentamente leite de temperaturas elevadas, pode demonstrar uma tolerância muito maior que no primeiro caso, pois ocorre uma adaptação ao estímulo. Certos estímulos são mais tolerados que outros. Para a dor quase não ocorre adaptação, enquanto que o tato e a pressão têm boa adaptação, como podemos observar pelo uso de nossas roupas, óculos, jóias, etc. O fato de os receptores da dor adaptarem-se mal e lentamente é benéfico, pois que a dor é uma sensação útil sob o ponto de vista de ser um mecanismo protetor : a fácil adaptação aboliria sinais de aviso contra o perigo.

  • Especificidade - Os vários receptores não só diferem morfologicamente entre sí, mas também diferenciam-se pelo fato de cada um servir apenas a uma modalidade sensitiva. Isto eqüivale a dizer que os corpúsculos de Ruffini reagem normalmente apenas ao calor; os de Golgi-Mazzoni respondem apenas à pressão, ou seja, se a pressão for aplicada aos receptores de Ruffini, eles não iniciarão um impulso e nem o calor aplicado aos de Golgi-Mazzoni provocará qualquer resposta. À propriedade do receptor responder apenas a um tipo particular de estímulo, toma o nome de especificidade. Todavia, é preciso lembrar que a especificidade aplica-se apenas dentro dos limites normais ou fisiológicos da intensidade do estímulo.

  • Intensidade - As diferenças de intensidade da estimulação são facilmente percebidas: podemos distinguir facilmente uma bofetada de um tapa afetuoso. Esse discernimento está condicionado por dois mecanismos: 1. A velocidade de descarga de um receptor está em função da intensidade da estimulação, ou seja, quanto mais forte o estímulo, mais rápida será a velocidade de descarga. Um estímulo forte produz uma torrente de impulsos, enquanto outro mais fraco, no mesmo período de tempo, dará origem apenas a uns poucos impulsos. 2. Raramente um estímulo afeta apenas um receptor. O número de receptores ativados depende da intensidade da estimulação porque nem todos eles possuem o mesmo limiar de intensidade. Um estímulo fraco provocará uma resposta apenas nos receptores mais sensíveis. Um estímulo forte porém ativará também, além dos receptores mais sensíveis, aqueles de limiar de intensidade mais elevado, Neste último caso, o córtex sensitivo receberá, por meio das vias nervosas, um número maior de impulsos por unidade de tempo.






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